Para uma discussão descolonizadora latino-americana: Civilização e Barbárie

AutorAntonio Carlos Wolkmer y Efendy Emiliano Maldonado Bravo
Páginas93-115
93
PARA UMA DISCUSSÃO DESCOLONIZADORA LATINO-AMERICANA:
Civilização e Barbárie1
FOR A LATIN AMERICAN DECOLONIZING DISCUSSION:
Civilization and Barbarism
Antonio Carlos Wolkmer2
Efendy Emiliano Maldonado Bravo3
Resumo: A proposta do artigo é introduzir ao debate jurídico uma pers-

dois conceitos paradigmáticos do pensamento político ocidental –Civi-
lização e Barbárie–, apresenta-se uma crítica às teorias jurídico-políticas
-
sicos –A Utopia de Thomas Morus; Os Canibais de Michel de Montaigne;
e A Tempestade de William Shakespeare– analisam-se as suas concepções
sobre o “Novo Mundo”, objetivando desconstruir a visão idealista sobre
a civilização ocidental e revalorizar as resistências calibanescas.
Palavras-Chaves: Descolonização, América Latina, Civilização, Barbá-
rie, Caliban.
Abstract: The purpose of this paper is to introduce a Latin American
decolonial political perspective to the legal debate. Building up from re-
 
–Civilization and Barbarism–, the paper features a critique of modern he-
gemonic legal and political theories. Based on the works of some classical
authors –The Utopia by Thomas More; Of Cannibals by Michel de Mon-
taigne; and The Tempest by William Shakespeare–, the paper analyzes
their conceptions of the “New World”, aiming to deconstruct the idealis-
tic view of Western civilization and revalue the calibanistic resistance.
1 Artículo recibido: 15 de marzo de 2017; aprobado: 20 de abril de 2017.
2 Professor dos Programas de Pós-Graduação em Direito da UNILASALLE-RS e da UFSC,
onde coordena o Núcleo de Estudos e Práticas Emancipatórias (NEPE/UFSC). Correo-e:
acwolkmer@gmail.com
3 Professor Substituto do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Cata-
rina (CCJ/UFSC). Correo-e: eemilianomb@gmail.com
ISSN 1889-8068 REDHES no.18, año IX, julio-diciembre 2017
Revista de Derechos Humanos y Estudios Sociales
94
Keywords: Decolonization, Latin America, Civilization, Barbarism, Caliban.
La civilización, que es el nombre vulgar con que corre el estado actual del hombre
europeo, tiene derecho natural de apoderarse de la tierra ajena perteneciente a la
barbarie, que es el nombre que los que desean la tierra ajena dan al estado actual
de todo hombre que no es Europeo o de la América europea.
José Martí
1. Introdução
A proposta deste texto é introduzir a discussão sobre dois conceitos paradigmáticos
(topoi-
nico ao longo da modernidade, são eles: Civilização e Barbárie. Como se poderá ob-
servar, são dois conceitos antitéticos, que vivem um processo dialético historicamente
complexo, mas que contribuem e favorecem introduzir um resgate sobre a condição
do “Outro” injustiçado.4

mencionar a origem histórica dessa terminologia, a qual, segundo Leopoldo Zea, re-
monta ao mundo helênico, já que se refere a:

cultura helênicos. O mundo dos gregos e o mundo dos bárbaros. Mas com o qua-
 
expressa a pretensão que encoraja tal história e, com ela, o modo de ver a outros
homens e culturas, e racionalizar sobre que não são as de quem vê e racionaliza. Ho-
-
cador, o grego, o romano e depois o europeu, até culminar no homem e no mundo
ocidentais. Bárbaros; bárbaro, palavra onomatopaica que o latim traduz como balbus,
isto é, o que balbucia, tartamudeia: Bar-ba... Mas o que é que se Balbucia ou tartamu-
 
a mesma linguagem do grego. Bárbaro é quem fala mal o grego, quem o balbucia ou
tartamudeia. Balbus, em latim, é o “balbuciante, tartamudo, torpe de língua, que não
pronuncia clara e distintamente.” Para o grego, bárbaro, é o homem rude, o não-
grego, o estrangeiro. Isto é, o homem que está fora do âmbito grego ou à margem
  
4        -
nado, Efendy Emiliano, Histórias da insurgência indígena e campesina: o pr ocesso constituinte equatoriano
desde o pensamento crítico latino-americano, Florianópolis, Curso de Pós-Graduação (Mestrado) em
Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, 2015.

Para continuar leyendo

Solicita tu prueba

VLEX utiliza cookies de inicio de sesión para aportarte una mejor experiencia de navegación. Si haces click en 'Aceptar' o continúas navegando por esta web consideramos que aceptas nuestra política de cookies. ACEPTAR